Por Élida Zuchini (Galega), guia da Pisa Trekking.
Sempre que converso com alguém pelo mundo, o assunto acaba terminando em dicas de viagens, geralmente em sugestões de trekkings. Afinal, sinto que quanto mais viajamos, maior a lista de viagens que queremos fazer.
Fato é que, quando começo a falar das Dolomitas, localizadas na Itália, percebo que existem grupos bem definidos: pessoas que já visitaram, pessoas que sonham em visitar e pessoas que nunca ouviram falar. Quem visitou, geralmente já voltou outras vezes; quem sonha em visitar, nunca encontrou uma boa oportunidade; e quem nunca tinha ouvido falar, acaba colocando as Dolomitas no topo da sua lista após algumas fotos e boas histórias.
Bom, acredito que a maioria dos leitores que nos acompanham se encaixam nos grupos que sonham em conhecer ou que nunca ouviram falar. Nesse relato, espero compartilhar um pouco da paixão que tenho por essas montanhas para que você possa descobrir todos os encantos deste paraíso rochoso.
História das Dolomitas
Eu poderia começar relatando sobre as belezas, mas conhecer as Dolomitas vai muito além das belas paisagens. Em 2009, a UNESCO passou a considerar as Dolomitas como Patrimônio Mundial das Nações Unidas. Isso porque, apesar de estarem localizadas nos Alpes, as formações rochosas preservam materiais específicos e com grande valor geológico, que ajudam a contar a história da Terra e da humanidade.
A área abrange nove diferentes unidades de conservação espalhadas por cinco províncias ao norte da Itália, em um total de 142.000 hectares. Cada um deles preserva diferentes formações rochosas e visuais de tirar o fôlego.
Como chegar nas Dolomitas?
Muitos destinos de trekking acabam tendo acesso difícil ou muito caro, mas esse não é o caso das Dolomitas. Muito pelo contrário. Você pode acessar as principais portas de entrada pela famosa Veneza, onde é possível encontrar voos com preços justos. Além disso, você pode facilmente aproveitar a viagem para conjugar com outros destinos europeus, como aquela grande capital que você sempre sonhou em conhecer e depois seguir para Veneza.
Ou então, conjugar com destino próximos, acessíveis de carro, trem ou ônibus, como os Alpes na Áustria, os belos rios e cachoeiras turquesas na Eslovênia ou até mesmo alguns dias de praia em Trieste ou no litoral da Croácia. Um mundo de possibilidades para quem tem alguns dias a mais de férias!
Nossa base é a bela cidade de Cortina d'Ampezzo, localizada a 150 km de Veneza. Em aproximadamente 2h30 de deslocamento, você já começa a admirar as belas montanhas e várias vilas encantadoras. Uma das mais estruturadas para o turismo é Cortina, que se reveza como destino de verão para escaladores e trilheiros de todos os gostos e níveis físicos e técnicos, e no inverno se transforma em uma das principais estações de ski do mundo.
Já tendo sediado uma Olimpíada de Inverno, a cidade hoje está se preparando para receber o Mundial de Ski e, em 2026, sediará mais uma vez a Olimpíada. Por isso, espere encontrar ótimos hotéis, restaurantes incríveis e todas as lojas de equipamentos das marcas que amamos. Mas, a melhor parte é poder contemplar da sacada florida do seu quarto imponentes montanhas rochosas e seus cumes nevados. Cortina por si só já vale a visita!
O que fazer nas Dolomitas?
Existem infinitas possibilidades para todos os gostos, condicionamentos físicos e níveis técnicos. A qualidade da infraestrutura e a prática de diferentes modalidades na região permitem que você possa acessar impressionantes montanhas escalando em rocha, por vias ferratas (famosas na região), por trilhas de diferentes níveis técnicos caminhando ou de bicicleta, e até mesmo por teleféricos, inúmeros na região. O que é muito interessante, pois isso possibilita conectar diferentes pessoas à natureza.
Na base da famosa formação Cinque Torri, por exemplo, no restaurante localizado no final do teleférico, você encontra famílias, idosos, crianças, bikers, escaladores e trilheiros reunidos em busca de boa comida e curtindo o visual das montanhas, vivendo como uma grande comunidade da vida ao ar livre.
Você não precisa ser um exímio trilheiro para curtir esse paraíso. Mas se você gostar de um bom desafio, você irá encontrar aqui uma das travessias mais incríveis que você poderá fazer ao redor do mundo!
A travessia: Alta Via N.1
Ainda não tão famosa entre os brasileiros, mas essa é uma das travessias mais procuradas entre os gringos e é fácil de entender o porquê. A Alta Via Número 1 das Dolomitas é uma desafiadora travessia de montanha, mas com alguns luxos, que deixam até os maiores amantes dos acampamentos selvagens, como eu, encantados e mal (ou bem) acostumados.
Isso porque os refúgios durante a trilha possuem uma excelente infraestrutura, do tipo que eu nunca vi em nenhuma outra montanha. Os dias de caminhada são longos e desafiadores. Na nossa programação, caminhamos um total de 95 km, com 6.700m de ganho de elevação acumulado e em terrenos por vezes um pouco mais técnicos. Porém, o suporte oferecido pelos refúgios possibilita que você caminhe com uma mochila pequena, entre 30 e 40 litros.
Você precisa levar apenas seus equipamentos pessoais básicos, como anorak, calça impermeável, uma pequena toalha (alguns refúgios oferecem, mas não todos), linner, roupas de trilha, bolsa de hidratação, alguns snacks, medicamentos e cosméticos de uso pessoal. A maioria dos refúgios oferece alguns confortos que possibilitam que você economize peso, como lavar roupas e espaços para secá-las. Existe uma sala de botas, onde todas as botas ficam em um compartimento para serem arejadas e secas por um jato frio durante à noite, um luxo!
Recomendo que você leve um chinelo ou papete para caminhar pelos abrigos, mas se quiser ser muito econômico na mochila, alguns oferecem chinelos. Com um bom planejamento e uma dose de desapego, poderá caminhar leve e guardar energia para as fortes subidas e descidas que encontrará pelo caminho.
Vale ressaltar que não é permitido acampar, e além dos refúgios privados que oferecem toda a estrutura de uma pousada, existem refúgios do clube alpino italiano, que são um pouco mais simples e consequentemente mais baratos. De qualquer forma, é importante se planejar com antecedência, pois as vagas em todos os refúgios são concorridas e costumam esgotar com antecedência.
Gastronomia
As paisagens das Dolomitas irão tirar o seu fôlego, mas você também irá se apaixonar pela gastronomia da região. As famílias que cuidam dos refúgios oferecem um banquete para os trilheiros. Você ficará bem acostumado a comer entrada, prato principal e sobremesa todos os dias, além de deliciosos cafés da manhã. Vários pratos típicos que misturam costumes italianos e austríacos irão te fazer experimentar várias vezes para tentar eleger seu preferido, se puder.
Além disso, para os apreciadores de vinho, é possível encontrar todas as noites grandes rótulos italianos para acompanhar seu jantar. Para quem não dispensa um bom chopp, você sempre encontrará várias torneiras disponíveis, inclusive artesanais, produzidas no vale.
Claro, que todo esse conforto tem um custo adicional por estar em um local inóspito. Além disso, devo ressaltar que essa é uma região onde você deve esperar preços um pouco mais altos do que em outros locais da Europa. Mas, se você tem um pacote com café da manhã e jantar nos refúgios, espere gastar cerca de € 25 por dia. Se você deseja degustar bons vinhos, então se planeje para gastar um pouco mais.
Paisagens da Alta Via
É difícil falar de pontos específicos, pois todas as paisagens são tão magníficas que me sinto injusta por ressaltar alguns pontos e não conseguir falar de cada detalhe. Mas, como os guias locais costumam dizer, as três cores que simbolizam as Dolomitas são: o azul do céu, o branco da neve, e o verde das florestas. Essas cores emolduram um quadro natural e te fazem sentir caminhando por uma pintura.
Espere encontrar lindos lagos, impressionantes florestas de pinheiros, muitas flores de diferentes cores e montanhas majestosas, de formações peculiares como a Silver Mountain, o Monte Civetta e Cinque Torri. Com sorte, você irá contemplar espetáculos da natureza.
Esse ano, no Refúgio Lagazuoi, fomos presenteados com um belo pôr do sol e o nascer da lua cheia, que deixou o mar de nuvens ao nossos pés, ora dourado, ora prateado. Do alto, podíamos fazer alusão à época em que todas aquelas montanhas eram banhadas pelo mar, com seus cumes ao alto. Daqueles momentos que levarei para o resto da vida guardados na memória.
Outro refúgio que vale ser destacado aqui é o Tissi, um dos mais simples, mas, para mim, o mais especial. Encravado no topo da montanha depois de uma linda e forte subida, faz alusão à casinha da animação UP. O pôr do sol e o amanhecer lá farão você se sentir em um filme.
Tre Cime di Lavaredo
A Alta Alta Via N 1 é impressionante, mas não posso deixar de falar sobre a formação mais famosa, símbolo das Dolomitas e, na minha opinião, imperdível, o Tre Cime di Lavaredo.
Característico pelos seus três cumes, considerado uma das formações naturais mais notáveis das Dolomitas e cobiçada pela maioria dos escaladores. Existem diferentes trilhas e travessias pela unidade de conservação e é comum ver muitas pessoas caminharem até o primeiro mirante, mas a volta completa de 11km é de tirar o fôlego. Com certeza ela irá proporcionar ótimas fotos e um bom aquecimento para quem quiser realizar a travessia.
As Dolomitas possuem uma infinidade de atividades para quem gosta da vida ao ar livre. Contei algumas experiências de trilhas no verão, mas você pode se aventurar por inúmeras atividades outdoor tanto no verão como no inverno. Essa é uma região que não para: as ruas estão sempre movimentadas, mas ao mesmo tempo, se você fugir do mês de agosto, não irá pegar nenhum lugar muito lotado.
Lembre-se de escolher com atenção a estação para a atividade na qual você deseja se aventurar. Trilhas são melhores em julho e setembro, vias ferratas se destacam em setembro, e fique atento à época de funcionamento dos refúgios de verão. Se você deseja se aventurar nos esporte de neve, a hora é agora.
Para que quem sonha há tempos com as Dolomitas e faltava aquele empurrãozinho, ou se você nunca havia pensado em conhecer esse lugar, recomendo que você coloque as Dolomitas no topo da sua lista. Esse é um daqueles lugares que você vai se apaixonar e certamente querer voltar!
A Pisa Trekking oferece uma saída em grupo de Trekking nas Dolomitas guiada por Élida Zuchini. São 10km diários ao longo de 7 dias de trekking, passando pela Alta Via N.1, o Lago di Braies, o Maciço de Lagazuoi, o Maciço de Marmolada, o Cinque Torri e muito mais. Os pernoites são em refúgios de montanha, que oferecem uma comida imperdível. Esse é o único roteiro para as Dolomitas com presença de guia brasileiro.
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